Um peso sem valor

Seus joelhos cederam em meio à chuva gélida. Um único ponto claro se manifestava no horizonte. E só então notou que não havia luzes ao redor. Seus dentes amarelados colidiam uns contras os outros, enquanto seus punhos fechados tremiam no chão em meio a uma reverencia asiática quase que forçada. Era um sonho?

Morrer nunca foi tão fácil em comparação ao que sentia. E viver era uma condenação ao sofrimento insuportável que não queria mais sentir, fadado aos erros que não podiam ser pagos e perdido na ilusão de querer pagar. Mas você não entendia o que estava acontecendo.

E mesmo assim tentou levantar, seguir o foco de luz, como os insetos faziam ao contemplar uma luminária, só que algo comprime seu peito toda vez que se movimenta, e uma recordação apagada começou a crescer em sua mente e seu rosto empalideceu muito antes de começar a inclinar a cabeça para tentar alcançar a visão do seu peito.

Tudo que viu, muito antes, porém, foi uma corrente fincada no chão, esticada na sua máxima capacidade. E ela tremia mais e mais junto as batidas do seu coração, e o mesmo só obedecia ao medo do que sua consciência começava a entender, quando as lacunas começaram a ser explicadas por si só. E o vento frio estava mais forte, e a chuva batia com mais força em seu dorso, mas não era pelo frio que tremia, e, agora que notou, também não era por isso que suas lágrimas se misturavam a lama escura que respingava no seu corpo quando a chuva colidia contra o chão. Era o desespero, o movimento de fechar e abrir a boca, de gritar e não ser ouvido.

Você bem que tentou se acalmar e concentrar suas forças nos joelhos para poder tirar as duas mãos do solo, porém tremia com tanta intensidade que só foi possível tirar uma e deslizar seus dedos vagarosamente pela corrente, subindo até seu peito e notar o que já sabia, só não como e nem quando, aquela coisa fora colocada em seu peito, forçando-o a ficar naquela posição desconfortável, como um animal.

Seus olhos buscaram por socorro e tudo que recebeu foi o consolo de não estará sozinho, pois existiam tantas pessoas ao seu redor, da mesma forma que ele, repetindo as mesmas etapas que acabara de fazer, cruzando olhares desesperados e cheios de duvidas.

Então aquela luz brilhou para você com intensidade, embebedando sua mente com lembranças boas e te afundando nos seus piores pecados. Isso tudo para te deixar claro que ainda estava vivo... e Pagando um peso sem valor que era a culpa.

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